Risco
Manhã foi de limpeza no Pontal da Barra
As chamas que começaram no fim da tarde de quarta-feira foram controladas durante a madrugada; nesta quinta, os moradores utilizaram a manhã para limpar as cinzas
Por Vinícius Peraça e Leandro Lopes
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É como se fizesse parte da rotina. Quando não são as enchentes, é o fogo a ameaçar o Pontal da Barra. Na noite de quarta-feira e na madrugada de ontem, mais uma vez um incêndio atingiu área de aproximadamente dez quilômetros quadrados e tirou o sono de dezenas de famílias da região.
O fogo iniciado no final da tarde parecia não oferecer riscos à colônia de pescadores. No entanto, por volta da 1h da madrugada, a mudança da direção do vento fez com que as chamas que antes não ameaçavam se aproximar da beira da lagoa fossem avançando aos poucos em direção às residências. Acionado, o Corpo de Bombeiros agiu rápido para evitar que as casas fossem atingidas. Foi preciso que um caminhão de Rio Grande se juntasse a dois de Pelotas e mais um caminhão-pipa do Sanep para conter as labaredas.
Foram quase dez horas de ação, com os focos sendo controlados somente às 4h30min, quando o fogo estava a cerca de 15 metros das moradias. A origem do sinistro não foi identificada. Diante do cenário de muita fumaça e medo das famílias de que as casas - várias de madeira - fossem atingidas, os próprios moradores se juntaram a guardas municipais, agentes da Defesa Civil e do Sanep, além de membros da Secretaria de Serviços Urbanos e Infraestrutura, para reforçar o combate ao incêndio.
“Se não fossem os bombeiros e o apoio de todos que vieram aqui dar uma força, o fogo ia chegar pelos fundos das casas”, conta o pescador João Carlos Fonseca. Aos 62 anos e morador do Pontal da Barra há 33, ele conta que este é o terceiro grande incêndio que presencia. Outros focos menores costumam surgir, segundo ele, a partir da falta de cuidado das pessoas que visitam a região. “É comum o pessoal vir aqui fazer churrasco ou até acender velas em oferenda e isso começar um incêndio. Tem que ter mais cuidado”, pede.
Nada perdido, mas muita sujeira
Após passar toda a madrugada na lagoa, o pescador Jair Carvalho, 28, levou um susto quando voltou na manhã de ontem. Às 8h30min, quando se aproximou de casa, notou a sujeira na rua e percebeu que havia algo errado. Ao saber do incêndio, ainda foi informado de que a esposa, Amanda Peres, 18, e a filha Lorrane, de apenas um ano e oito meses, precisaram ser socorridas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) por conta do excesso de fumaça inalado.
As crianças foram as que mais se espantaram com o fogo e precisaram de atenção especial. A dona de casa Adriana Cardoso, 43, precisou sair às pressas de casa com os netos de um, dois e quatro anos de idade para evitar que respirassem a fumaça. “Os bombeiros pediram para eu sair a caminhar com eles para um lugar afastado para que não passassem mal.”
Não bastasse todo o risco às vidas das famílias que vivem na localidade, incêndios como o ocorrido no Pontal da Barra podem causar impactos ambientais sérios. O ecólogo Gustavo Arruda explica que a devastação do banhado pode vitimar sítios arqueológicos e animais silvestres que vivem no local. Alguns, inclusive, ameaçados de extinção.
Segundo ele, a existência de casas próximas a esta área torna ainda mais difícil a defesa dos animais. “Os bichos de banhado sabem fugir do fogo porque evoluíram junto com as queimadas naturais. O problema é que fora dali há muita área “urbana” e isso pode causar conflitos no momento da fuga dos animais. Os mais debilitados, velhos, doentes e filhotes são as principais vítimas.”
Enchentes e incêndios se repetem
O clima e a falta de cuidado com o lixo e restos de acampamentos ou oferendas têm sido algumas das razões que levam o Pontal da Barra e seus moradores a sofrerem alertas de inundações, enchentes e incêndios. Nos últimos cinco anos, em pelo menos três ocasiões as famílias tiveram que lidar com o isolamento por conta de ressacas que fizeram a água da Lagoa dos Patos invadir a estrada de acesso. Porém, foi uma enchente em outubro de 2015 que mais prejudicou a comunidade. Por 18 dias as famílias dormiram e acordaram com água dentro das casas, após a chuva que fez o nível da lagoa subir 1,90 metro.
Nestes mesmos cinco anos ainda foi preciso enfrentar os focos de chamas que se repetem frequentemente. A pior sequência ocorreu em 2012, quando em apenas 48 dias entre os meses de junho e julho foram registrados três incêndios. O pior deles foi em 9 de junho. Um monte de lixo acumulado no campo foi queimado e o fogo se alastrou. O Corpo de Bombeiros levou seis horas para conter as chamas e evitar a chegada às residências.
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